O(s) Silêncio(s)







O silêncio é uma constante numa sessão de Watsu ou de Healing Dance. É um estado e uma busca.
Pode ter cambiantes no decorrer e desenrolar de uma sessão.
Acontece um pouco antes de uma sessão começar e termina um pouco depois da sessão terminar.
Neste post, quis dar um nome a cada um desses silêncios e pensar neles, sabendo que não são, nem pretendem ser definidos por ninguém, nem se pretende que sejam interpretados. 
Mas pensar neles, com a importância que têm e que é a maior a cada momento que passa.
Não querendo atribuir-lhes uma definição, mas antes relacioná-los com momentos possíveis numa sessão, aqui ficam algumas possibilidades:

Silêncio verbal 
O primeiro silêncio a acontecer é o externo ou verbal, quando terminamos a conversa inicial e deliberadamente calamos a voz e terminamos a comunicação verbal.


Silêncio inicial ou não verbal
Alguns momentos depois, chega um outro tipo de silêncio, em que ambos - terapeuta e receptor - silenciosamente se entregam ao momento (e um ao outro) na experiência da sessão que vai começar. Há assim, uma espécie de consentimento não verbal em que cada um assume para o outro a sua vontade de estar ali e de que a sessão pode começar. Ambos procuram focar-se no aqui e agora.
É neste silêncio que é dado o sinal não verbal para se dar inicio à sessão.


Silêncio da quietude
Um silêncio que acontece com o inicio da sessão. Quando já tenho alguém deitado nos meus braços e me conecto com a sua respiração, escuto, sinto o ritmo. É um silêncio de quietude em que não há intenção nem pensamento, não há movimento e nada acontece. 
É de quietude porque não estamos a "fazer" nada, não estamos a pensar nada, nem a querer nada.
E, como diz Harold Dull, também não estamos à espera de nada.
Este tipo de silêncio surge mais algumas vezes no decorrer da sessão e é fabuloso. 
É, muitas vezes, a oportunidade para o "nada" acontecer ou para conhecermos o "nada" em nós.
Uma oportunidade de chegarmos a um vazio interno, (que, muitas vezes, de outra forma não teríamos acesso) que nos permite conhecer outros espaços em nós, que nos permite escolher novas formas de o preencher ou ter consciência de que conseguimos lá chegar. 
Permite, mas não impõe. E isso faz deste silêncio um momento maravilhoso.


Silêncio da fluidez ou do fluxo
Um silêncio que acompanha movimento ou é acompanhado por movimento.
O movimento pode ser lento ou mais vigoroso, mais amplo ou mais contido e há um silêncio simultâneo que permite escutar o corpo, escutar a água...
Alexander George (criador da técnica de Healing Dance) disse -  os movimentos são convites: gostarias de soltar/deixar ir/libertar?
E esse silêncio que acompanha os movimentos ou é acompanhado por eles, permite esse convite a soltar amarras, pensamentos, tensões físicas ou tensões internas, padrões... 
A água tem um papel fundamental, porque ao mesmo tempo que permite esses movimentos, essa fluidez e oferece suporte para o corpo e alma, oferece ainda o silêncio líquido e sem julgamento que permite receber, diluir e dispersar tudo o que o receptor decidir libertar, soltar e "despadronizar".
É um silêncio activo, que permite igualmente fazer escolhas internas e proporcionar sensações físicas de contacto com o outro e com a água.


Silêncio prazeroso
Um silêncio presente, normalmente, associado a uma sensação física.
Muitas vezes, pode ter expressão através do alívio de tensões musculares, de uma dor forte ou persistente que desaparece com a ajuda da água e do trabalho corporal que levamos a cabo numa sessão.
Outras vezes, pode ser uma sensação geral de bem-estar, num dado momento da sessão. 
Pode ainda manifestar-se com um sentimento de apreciação pela vida ou gratidão pelo momento.


Silêncio mental
Há um silêncio que nos deixa ficar na mente. Que impede uma entrega total, que faz estar concentrado, que faz querer compreender e faz perguntar porquê e como. Que não deixa soltar, deixar ir ou "despadronizar".
E o Watsu é fabuloso nesse silêncio também, porque aceita e dá uma oportunidade ao receptor.
Por vezes, é numa sessão mais mental que o receptor se dá conta de que não se entregou, não deixou ir, não se libertou de padrões, não deixou de querer controlar a situação a cada momento.
Essa tomada de consciência, se acontecer, pode ajudar de alguma forma.

Silêncio energético
Quando o silêncio deixa a energia tornar-se perceptível. Seja para o receptor seja para o terapeuta.
É um silêncio que pode coincidir com qualquer outro dos anteriores ou pode ser independente.
E que deixa a energia ter uma voz evidente que se sente, quer seja por um segundo ou se prolongue por mais tempo.

Silêncio final
O silêncio que acontece com o final da sessão.
Para mim, enquanto terapeuta, é um silêncio conclusivo e que não levanta perguntas. 
É um silêncio que faz honrar o espaço, os meus mestres, a água, a pessoa que tive nos braços e a mim mesma. Que faz sentir gratidão por aquele acontecimento ter tido um tempo e um espaço.
É um silêncio que pode (ou não) levar a uma partilha de palavras a seguir. Ou a uma partilha de uma expressão facial ou física.


Muitas vezes, é sem palavras o final de uma sessão.





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