O vazio




Há uma frase muito conhecida que diz:
"O vazio ocupa um espaço imenso."

O vazio é muito valorizado na nossa vida.
Há um vazio fora de nós e outro dentro.

No vazio fora de nós, procuramos a mesa vazia para nos sentarmos com os nossos pensamentos, o estúdio vazio para dançar ou tocar, o lugar despopulado para estarmos na natureza... procuramos o lugar vazio para estacionar, o copo vazio para beber... e, em cada momento, procuramos um vazio para preencher connosco, com a nossa vida, com o que somos ou queremos.
No trabalho aquático que faço, procuro a piscina livre e quente: gosto dela vazia, com tempo livre, com espaço para os movimentos...
Esse espaço, torna-se um campo por preencher com a nossa verdade.

E o mesmo acontece com o vazio interior. Em cada sessão, há um espaço mental meu e outro do receptor. É um espaço de profundo silêncio, receptivo, quente, convidativo, de aceitação.

A ausência de uma intenção deixa espaço para renovarmos o vazio. E nós renovamo-lo.
Eliminando a expectativa de um resultado pretendido, eliminando a vontade de, o esperar que, o fazer com que...
Deixamos aberta a possibilidade, sabendo que é uma possibilidade e não uma obrigação.

Nem todos percebemos ou agarramos a possibilidade de renovar vazios ou preenchê-los, no decorrer de uma sessão.
Nem todos conseguimos identificar vazios, entrar neles, olhar-nos por dentro deles, admirá-los enquanto nos admiramos a nós mesmos e... sair de dentro, abrir os olhos e aceitar uma dádiva tamanha de espaço interior rico que o nosso ser é.
Nem todos conseguem ver a possibilidade, a oportunidade... e está bem assim.
Está bem assim, porque essa possibilidade e oportunidade são infinitas... não têm de ser agarradas na primeira sessão, não têm de ser vividas nos braços de alguém, não têm de ser entendidas, verbalizadas... podem ser vividas em silêncio, inconsciente ou consciente, podem ser apenas despertadas - como uma ideia que chega não sabemos de onde, nem porquê, nem para quê.

Mas, se percebemos que há esse lugar dentro de nós, que podemos tocá-lo, em silêncio, que não "precisamos fazer" para lá chegar... que podemos escolher entrar ou ficar de fora... e que tudo isso pode acontecer sem "obrigação" e sem análise... é maravilhoso!

Peter Schroter (criador do WaterDance) disse que numa sessão criamos um atalho: em vez de falarmos sobre os estados interiores de cada um, nós facilitamos ao receptor o acesso directo a esses estados, nos nossos braços. E, em vez de interpretar, abrimos espaço para que possam vir e ir com o fluxo.

Se compreendermos isto, percebemos porque motivo o movimento pode ser considerado "o remédio" no Healing Dance, por exemplo. Ou porque motivo os momentos de pausa são tão importantes no Watsu.



Texto inspirado em leituras feitas no site: aquaticwritings.com

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