Watsu e a dor







Muitas pessoas que procuram esta terapia convivem com a dor crónica. Acordam com dor, passam o dia com dor e dormem com dor e recorrem a medicação para aliviar esta condição.
Digo muitas vezes que um dos principais benefícios do Watsu é o alívio da dor e é verdade.
Por um conjunto de factores, é possível que uma pessoa com dor crónica experimente, durante a sua sessão, momentos de alívio de dor ou momentos sem dor.

Para mim, os momentos de alívio de dor e os momentos sem dor são duas coisas diferentes. Ambos podem acontecer e, quando acontecem, ambos proporcionam bem-estar imediato a quem recebe.

Nos primeiros, existe um processo a decorrer. Há dor, há vários factores a decorrer na sessão que promovem uma acção terapêutica e há uma diminuição progressiva da dor que culmina no alívio. Esse alívio traduz-se muitas vezes em sentir aquela zona do corpo mais relaxada, na libertação de pressões à volta, no reequilíbrio energético e faz com que o receptor sinta claramente que a dor diminuiu.

Nos segundos, existe o que eu gosto de pensar que é um dos maiores benefícios desta terapia: os momentos sem dor. Estes podem ser mais ou menos prolongados, mais ou menos recorrentes numa sessão, dependendo de cada um. E promovem um bem-estar real para corpo e mente. São momentos em que o receptor não sente dor nenhuma, em nenhuma parte do corpo. E sim, esses momentos existem. São também estes fruto de uma acção terapêutica que o Watsu possibilita.

E como é que posso garantir isto a alguém? Não posso. A pessoa tem de vir experimentar, tem de vir ver o que isto é e o que pode trazer de benefício à sua vida. E cada corpo é único.
Às vezes, perguntam-me quantas sessões têm de fazer para se sentirem bem ou para aliviar as dores. Não há uma resposta para esta pergunta. Cada pessoa e cada corpo terá o seu tempo. E a sua necessidade de receber sessões pode ser diferente de outra pessoa com a mesma dor.

Muitas vezes, chegam até mim como último recurso, depois de já terem experimentado tudo, depois de terem perdido a esperança em medicamentos, terapias, mezinhas... e o Watsu ajuda-as, sem químicos e durante uma hora a sentir alívio de dor ou momentos sem dor.

Algumas pessoas conseguem prolongar estes momentos nas horas seguintes à sessão, outras pessoas no dia seguinte, outras ainda nos dias seguintes. Quando isso acontece, a resposta do corpo foi fabulosa. 
Outras pessoas experimentam esses momentos de uma forma mais breve, durante a sessão.
Estas últimas, são as que deveriam receber mais vezes sessões de modo a conseguirem prolongar no tempo os momentos de bem-estar. 

Gosto de pensar que durante uma sessão o meu trabalho como terapeuta é mostrar àquele corpo a possibilidade, mesmo que por breves instantes, de se libertar da dor.
Um corpo que vive diariamente com dor, precisa de ser reeducado, precisa de receber um estimulo que contrarie o seu estado e que lhe mostre que é possível ter momentos sem dor. 
Cada célula precisa perceber e integrar que o estar sem dor é bom, é possível e que, aos poucos, todo o corpo pode libertar-se desse estado de fadiga, de esforço, de tensão, de pressão.
Há um convite constante a cada músculo, a cada articulação, a cada dor localizada, a cada célula para sentirem a segurança e o conforto, não só oferecidos pelo terapeuta, mas também pela técnica em si e pela água quente.
Esse convite diz àquele corpo: 
anda! podes vir aqui e estar aqui - podes experimentar este momento livremente - podem sentir-te seguro e confortável - podes libertar tensões, dores, pressões - podes deixar ir padrões - vê como é bom estar sem dor e como é possível o teu bem-estar.

Em alguns casos, há uma re-descoberta do corpo e destas sensações boas, libertadoras. 
O corpo que convive há tanto tempo com dor, vai ser desafiado a dividir a sua atenção entre a dor e o estar sem dor. Vai re-descobrir e relembrar como era e o que pode ser e isto pode demorar semanas ou meses...
Há uma memória celular, corporal, mental desse estado que vai chegando, sessão após sessão, e que permite que estas pessoas possam, aos poucos, ir conseguindo prolongar os momentos de alívio ou sem dor.

É muito bonito quando isto acontece, quando a pessoa sente os benefícios e reconhece esses momentos no seu corpo e na sua vida do dia-a-dia.



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