Da Presença II
~ a presença em relação a nós mesmos ~
Enquanto terapeuta, fui descobrindo com a prática e a formação continua, um outro tipo de presença - igualmente valiosa e, surpreendentemente, um pouco desvalorizada por mim nos primeiros cursos que fiz.
A presença connosco próprios enquanto alunos é uma coisa que podemos ignorar facilmente, quando queremos muito aprender uma técnica e o nosso foco é "fazer bem", dominar a técnica para "dar ao outro" a melhor prática possível.
Quanto mais eu exigia de mim para dar ao outro, mais facilmente ignorava essa presença comigo mesma, apesar de lembrar muitas correcções feitas pela professora no sentido de estar presente comigo e com o meu corpo.
Só mais tarde, julgo que num terceiro curso (o primeiro watsu 2, cheio de informação), recebi uma prenda do meu corpo para me ensinar essa presença comigo: uma otite.
A otite veio limitar-me porque não podia receber nenhuma prática, só podia dar.
Dar, praticar, praticar, repetir, repetir...
Condicionada, o meu foco tinha de ser dividido entre a pessoa que eu tinha nos braços e... o meu corpo, (todo, mas principalmente) o meu ouvido que não podia receber água.
Nesse curso, foi ainda mais importante:
- o meu alinhamento
- a posição do meu corpo em relação ao receptor
- o meu equilíbrio e desequilíbrio
- a amplitude e a suavidade dos meus movimentos
- perceber que sou a verticalidade que completa a horizontalidade do corpo que tenho nos braços, e vice-versa
- perceber os ângulos com os quais o meu corpo trabalha num todo
- mas também os ângulos com que o meu corpo trabalha nas suas partes (membros inferiores, membros superiores)
- quais os ângulos activos e os passivos em cada movimento ou posição
- que ângulos o meu corpo proporciona ao receptor
- perceber alavancas
E, sei, agora sei:
Conhecer o meu corpo e entender as suas limitações, aceitá-las e ter a capacidade de me ajustar, ter alternativas e dar uma resposta a uma necessidade minha, durante uma sessão é tão importante como ter essa capacidade para com o receptor: é estar presente comigo.
O tamanho dos meus braços, das minhas mãos, das minhas pernas, a amplitude dos meus movimentos (onde é maior e onde é menor), proteger as minhas articulações de alguma posição ou movimento que possam exceder ou ultrapassar os seus limites... é estar consciente de que eu faço parte daquela sessão e respeitar o meu ser, o meu corpo, sem julgá-lo.
Tenho um corpo pequeno, no geral, e isso não me limita. Não julgo, nem culpo o meu corpo se estiver consciente de mim mesma em cada sessão, se me reconhecer, me espelhar, me escutar.
Apesar de parecer que o único foco é a pessoa que temos nos braços, aprendi ao longo dos anos que não há um único foco numa sessão. Simplesmente porque somos 3 sistemas fluidos: o terapeuta, o receptor e a água. O foco está nos 3, a presença está nos 3.
Umas vezes mais consciente, outras menos.
Mas buscamos sempre essa trindade omnipresente.
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